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domingo, 12 de junho de 2011

A avó Cebola – Parte II – Os Pais

A nossa avó Cebola foi uma criança posta na Roda dos Enjeitados na Misericórdia de Olhão.
Nasceu em 1897, mas foi registada na Roda em 1898.
A avó foi registada como Bibiana da Conceição. Assim o eram todas as meninas postas na Roda da Misericórdia. Algumas mantiveram  contacto pela vida fora e registo aqui dois desses contactos: a nossa  avó levava por primos o casal Guerreiro, que tinha uma casa de roupas na Rua do Comércio (agora aquilo pertence aos filhos e noras); ora essa primandade advinha do facto da esposa do senhor Guerreiro ter sido também uma menina da Roda, de nome Bibiana da Conceição, e ter mantido o conhecimento com a Ti Cebola. Uma outra senhora a quem chamava prima era a Tia Conceição Caixinha (por coincidência mãe de uma tia minha, mas materna), que também era Bibiana da Conceição e era menina da Roda do tempo dela.
Como se percebe, nesse tempo ninguém ficava traumatizado por ser adoptado. Era uma condição social, que beneficiava adoptados e famílias adoptandas. Eram muitos os casos aqui em Olhão. Quem nunca ouviu falar dos Calhabanas (avôs e tios desses que vendem peixe no mercado)? Esses irmãos e irmãos (quase vinte!)eram todos adoptados pelo mesmos casal, e mantiveram pela vida fora o vínculo de irmandade.  
Como mais tarde ela própria reconheceu (numa situação que depois logo contarei),  a avó Cebola era filha ilegítima de um senhor abastado (primo do Dr. Reis) que morava na Rua Teófilo Braga (Rua das traseiras da Câmara Municipal) e de uma criada de servir (creio que de Quelfes). A filha e a sobrinha desse senhor faleceram nos anos oitenta, solteiras e sem descendência. Ambas eram pessoas cultas e educadas que juntavam aos seus rendimentos os proveitos das aulas de piano. A filha, D. Conceição, era madrinha de casamento da minha sogra. Ainda a conheci e os seus traços fisionómicos eram muito semelhantes aos da nossa avó: rosto comprido, nariz volumoso e cabelo encrespado. Estes traços de raiz africana deram-lhes o apelido de “mulatas”, pois que, efectivamente, o pai era mulato ou cabrita.
Contava a minha mãe que um dia, indo ela e a avó na rua das lojas, cruzaram-se com uma mulher e a avó cumprimentou-a sem grandes alaridos. Era a mãe verdadeira da avó. Sim, a nossa avó Cebola sabia quem era a mãe e conheci-a. Mas, pelos vistos a sua relação com ela não passava do cumprimento formal.
Foi a avó Cebola adoptada por um casal, João Sebastião (conhecido pelo Caga Sangue) e Maria da Conceição. Confirmado pela prima Rosa, o casal tivera cerca de dezoito filhos, mas nenhum sobrevivera, quer à nascença quer na primeira infância. Então decidiram ir à Roda buscar uma criança que desse continuidade à família, na perspectiva de segurar o negócio de que eram proprietários. Assim veio Bibiana da Conceição, menina saudável, ocupar um lugar de destaque numa casa abastada. Contava a avó que, nas visitas mensais que era obrigada a fazer à instituição que a tinha recolhido, era sempre a mais bem vestida e apresentada, pelo que a mãe adoptiva recebia uma verba oficial (10 vinténs).
Este casal tinha uma venda em frente ao mercado da fruta: além da taberna, vendiam batata doce assada e tinham carros de mula para transporte de mercadorias. Para a época, início de 1900, era uma visão muito vanguardista do marketing comercial que viria a produzir, 70 anos depois, os supermercados! Numa altura em que Portugal era menos do que um país periférico, tal o seu fraco desenvolvimento económico, uma família ter estes proventos era muito significativo!
Dez ou doze anos, esteve a avó Cebola sozinha com estes pais adoptivos. Durante a Primeira Grande Guerra é que nasceram as duas filhas, que se conservariam vivas até idade avançada.

Fica assim composta a árvore mais próxima da avó:

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