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quarta-feira, 8 de junho de 2011

A avó Cebola – Parte I – A Roda

Todos sabemos que a nossa Avó Cebola era enjeitada.Então vamos lá saber o que era isso:
No século XVIII, os conventos, Misericórdias e asilos recebiam crianças abandonadas pelas famílias. Sendo, na sua maioria, crianças indesejadas, fruto de relações ilegítimas ou até mesmo ilegais, eram abandonadas em grande segredo nessas instituições. Para isso havia um dispositivo rotativo, uma espécie de berço giratório, colocado nas paredes contíguas às portas principais. A mãe, pela calada da noite, com a cabeça e o rosto cobertos e com o filho bem embrulhado, pousava-o na "roda", pelo lado de fora, fazia-a rodar de modo a passar para o interior, e sem qualquer contacto com alguém, tocava uma campainha e desaparecia de seguida. Alguém do lado de dentro, ao soar a campainha vinha de imediato buscar a criança absolutamente anónima. A janela mantinha-se assim sempre fechada, com a abertura do tambor para fora ou para dentro, podendo ser rodada quando se fizesse girar a base (Roda).A mãe, evidentemente nunca poderia vir a reclamar a maternidade e a instituição (Misericórdia) assumia a educação das crianças ou garantia a sua adopção. Ninguém via, ninguém sabia a origem do menino ou menina. Era a chamada Roda dos Enjeitados. De tanto ser usada, a roda acabou por se tornar legítima chegando a ser oficializada nos finais do século XVIII e a receber a designação de Roda dos Expostos ou dos Enjeitados. O intendente geral da Polícia do Reino, Pina Manique, reconheceu oficialmente a instituição da roda através da circular de 24 de Maio de 1783, com o objectivo de pôr fim aos infanticídios e acabar com o horroroso comércio ilegal de crianças portuguesas na raia, onde os espanhóis as vinham comprar. A Roda dos Enjeitados passou a existir em todas as terras, vindo a perder a sua importância e uso com o advento do Liberalismo em Portugal, na primeira metade do século XIX.
No entanto, as desilusões, os acasos e as situações sociais nem sempre se resolvem por decreto e a Roda dos Enjeitados continuou a existir, de facto, até à primeira década do século vinte.

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