Hábito antigo que resume, de forma sintéctica, seja uma habilidade ou um defeito físico, seja uma característica comportamental ou uma estadia fora da terra, em Olhão, ricos e pobres, novos e velhos sempre tiveram alcunhas. Umas mantinham-se para a vida, outras alteravam-se com o passar dos anos.
Na nossa família, não se fugiu à regra e cada um dos filhos do Avô Xico e da Avó Cebola tinha uma alcunha: O Tio Xico, foi o Quarteireiro e mais tarde o Guelha; O Tio João era o Cavalo Raio; O Tio Manel era o Tirone; o Tio António era o Diogo Alves; o Tio Márinho era o Preto; o Tio Russo, que se chamava Joaquim e foi logo alcunhado à nascença, também era o Sangue Branco e o Tio Celestino, tratado na família por o Menino, foi alcunhado mais tarde de O Banana. De qualquer modo, todos eram BÚZIOS.
Sobre as alcunhas, em Olhão:
Não levem a mal, Senhores
Lembrar Alcunhas de Olhão.
E p’los meus se desenrola
Xico de Búzio, Cebola,
Como manda a tradição.
Água Morna, Amor sem Dentes,
Faz às Escuras, Faquita,
Rato Cego, Cólina, Chora,
Litepite, Meia Hora,
Chora Meninos, Caguita.
Erva Doce , Faz que Entendas,
Parte Pedras, Amador,
Ferra, Fitas, Forte, Forra,
Seis Meses e Pau de Porra
Rabisca agulhas, Major.
Pé de leque, Pai do Céu,
Pato Marreco, Galinho,
Patagalha, Fadagulha,
Charrana,Cluca, Fagulha,
Penalty,Alegre, Peidinho.
Caga Sangue, Calatrava,
Caga-aparas, Caga Arroz,
Toca a Música, Pescocinho,
Pé de Chumbo, Marrachinho,
Papagaio e Papa Arroz.
Balancé, Barbas à Roda
Galhofa,Gancho, Cação
Baraço, Bruto, Bexiga,
Charuto, Bolota, Biga,
Corta-a-picha, Calhapão.
Mata cães, Mata pardais,
Cólina, Figuinho torrado,
Cagaia, Papa xarém,
Meia Dólar, Vinte e Um Vintém,
Quinze Tostões e Rasgado.
Papa a Mija, Vai à Burra,
Xarém com Leite, Cagão,
Rei dos Chinos, Mijaneira,
Mãe Quer Galo, Batateira,
Sopa Gorda, Espadagão.
Laborda, Manco, Tágafo,
Bocage, Cabouco, Milho,
Sete Narizes, Chópinha,
Charamuga e Galinha,
Arranca Pinheiros, Mamilho.
Cara Linda, Cara Feia,
Parte Certa, Gaita Preta,
Bem Feito, Bucha, Baló,
Olhinhos de fogo, Eiró,
Espada nua e Cagueta.
No 77º aniversário do saudoso Tio Celestino, o texto que lhe levei na última visita ao hospital e que lhe arrancou risos e lágrimas.
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