CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO TIO JOÃO BÚZIO

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O Tio Márinho


      De temperamento extrovertido e sociável, sempre encarou a vida com tranquilidade e humor.
      Nascido oficialmente às 4 horas da manhã do dia 30 de dezembro de 1938, Mário Paulo Viegas só foi registado e baptizado em maio do ano seguinte juntamente com o Tio António, que tinha nascido 6 anos antes. Como não podia ser "gémeo" do irmão pela diferença de idades, o pároco da altura registou-os com 1 mês de diferença. O seu padrinho de baptismo era para ter sido o Joaquim Paulo, na altura treinador do Olhanense, mas pelas fracas condições económicas da altura, deu o lugar ao irmão, Mestre de sacada. Foi, sem dúvida, um começo bem humorado, pronúncio de posteriores situações.



      Entroncado, muito moreno e de carapinha larga, levou uma primeira infância traquina pelo Largo da Feira, orientado pelos irmãos mais velhos, nomeadamente o Tio João a quem pedia cantando " Boínhe, péla o pê mina" (Boínhe, péla o pêro para mim!).
     A partir dos sete anos, as rotinas diárias direcionam-se para o sustento da casa. Numas, acompanha o avô na compra de peixe aos galeões para  depois vender pelas ruas, noutras vai com o avô levar a esposa do chefe Silvestre aos banhos das 6h da manhã. Já na primeira década de vida arranja trabalho como pastor das cabras de um Engenheiro da doca, que termina com um bofetão da patroa no dia em que, distraído com o vaivém das águas da ria, deixa os animais dizimar as favas de uma horta vizinha.
      Preocupada com a educação dos filhos, a Avô Cebola comprou um bibe em 2ª mão e uma mala de cartão e matriculou o Tio Márinho na escola do Largo da Feira. Mas foi curta a sua vida académica: terminou no dia em que foi presenteado com um par de botas, meses depois.

Alunos da Escola Primária do Largo da Feira, anos 50
       Entretanto, tomavam forma os serões animados. Dono de uma voz potente, afinada e bem timbrada, inventava os seus espetáculos, onde era simultaneamente apresentador e cantor, e que terminavam, muitas das vezes,  com tacadas de xarém dos irmãos espectadores.
      Em 1957, apanha boleia do barco "Bom Sucesso" do Mestre Joaquim Bexiga e vai a Lisboa à inspeção juntamente com o Tio António. A viagem de regresso é feita a bordo do salva-vidas de Paço d'Arcos do Mestre Joaquim Casaca. Salvam a despesa dos 82$50 do bilhete e salvam-se do serviço militar.

Salva-vidas  PATRÃO JOAQUIM CASACA (UAM-673),1979
    
Na década de 60 inicia a sua vida de pescador profissional. Os primeiros 5 anos faz a faina piscatória  em Matosinhos nas traineiras Zé Maria, Monte Sinai, Carlos Pinto, Arau, a primeira a usar um alador triplex, António Pedro e Flamingo.

 
Traineira António Pedro



Traineira Flamingo

 
Traineira Arau



O Tio Márinho e o Tio Russo, Matosinhos, 1960


       A 16 de fevereiro de 1964, contrai matrimónio com Maria Salvina Afonso (ver aqui).

O Tio Márinho e a Tia Salvina, com os Padrinhos de casamento


       Na safra de 1965/66, ruma à Figueira da Foz e trabalha a bordo da traineira Boa Fé.

Traineira Boa Fé

        Nos anos 67 e 68 trabalha nas traineiras Lurdinhas e Pérola do Arade, registada em Portimão mas a operar em Olhão.
       Em 1969 embarca nos arrastos "Vila de Lagos" e "Vila do Bispo" que fazem a rota do Cabo Branco.
     Nos quatro primeiros anos da década de 70, troca o mar pelas terras frias da Alemanha. Trabalha no porto de Bremen e torna-se operário fabril nas indústrias Baustahl e Juridth, na cidade de Glinde.

GlinderMuehlenteich.jpg
Paisagem de Glinde, Alemanha


       Em 1974, compra, em sociedade com o Tio Russo, a embarcação Xico Zé (que virá a a morrer, já desativada, na praia de Quarteira).
      No final da década, compra, em sociedade com o Tio João, a motora Rimar.
      Entre 1982 e 83, um revés na sua vida leva-o a fazer  uma pausa no trabalho para um retiro obrigatório.
     Regressado às lides do mar, é contramestre na Princesa do Sul e na Palmeta, com passagem pelo comando do barco da carreira Armonense.

Armonense, Barco da Carreira Olhão -Ilha da Armona
 
     Na década de 90 embarca no Caju de Vila Real de Santo António, e Nova Senhora da Piedade do Mestre Manuel da Velha.

     Pelo meio destas andanças laborais dedica algum tempo às lides artísticas, tornando realidade o contexto dos serões da infância. 
     Locais da nossa cidade como "A Pérola do Marisco", "O Pescador" e a "Cervejaria Dira", onde abrilhantou a inauguração, foram palco das suas apreciadas prestações artísticas.





A entrada do novo milénio traz-lhe a merecida reforma.
Hoje, 30 de dezembro, o Tio Márinho faz 81 anos. Longa vida para o membro mais velho da nossa grande família.





quarta-feira, 14 de agosto de 2019

As Alcunhas

         Hábito antigo que resume, de forma sintéctica, seja uma habilidade ou um defeito físico, seja uma característica comportamental ou uma estadia fora da terra, em Olhão, ricos e pobres, novos e velhos sempre tiveram alcunhas. Umas mantinham-se para a vida, outras alteravam-se com o passar dos anos.
          Na nossa família, não se fugiu à regra e cada um dos filhos do Avô Xico e da Avó Cebola tinha uma alcunha: O Tio Xico, foi o Quarteireiro e mais tarde o Guelha; O Tio João era o Cavalo Raio; O Tio Manel era o Tirone; o Tio António era o Diogo Alves; o Tio Márinho era o Preto; o Tio Russo, que se chamava Joaquim e foi logo alcunhado à nascença, também era o Sangue Branco e o Tio Celestino, tratado na família por o Menino, foi alcunhado mais tarde de O Banana. De qualquer modo, todos eram BÚZIOS.



Imagem relacionada

          
          
Sobre as alcunhas, em Olhão:

Não levem a mal, Senhores
Lembrar Alcunhas de Olhão.
E p’los meus se desenrola
Xico de Búzio, Cebola,
Como manda a tradição.


Água Morna, Amor sem Dentes,
Faz às Escuras, Faquita,
Rato Cego, Cólina, Chora,
Litepite, Meia Hora,
Chora Meninos, Caguita.


Erva Doce , Faz que Entendas,
Parte Pedras, Amador,
Ferra, Fitas, Forte, Forra,
Seis Meses e Pau de Porra
Rabisca agulhas, Major.


Pé de leque, Pai do Céu,
Pato Marreco, Galinho,
Patagalha, Fadagulha,
Charrana,Cluca, Fagulha,
Penalty,Alegre, Peidinho.


Caga Sangue, Calatrava,
Caga-aparas, Caga Arroz,
Toca a Música, Pescocinho,
Pé de Chumbo, Marrachinho,
Papagaio e Papa Arroz. 


Balancé, Barbas à Roda
Galhofa,Gancho, Cação
Baraço, Bruto, Bexiga,
Charuto, Bolota, Biga,
Corta-a-picha, Calhapão.


Mata cães, Mata pardais,
Cólina, Figuinho torrado,
Cagaia, Papa xarém,
Meia Dólar, Vinte e Um Vintém,
Quinze Tostões e Rasgado.


Papa a Mija, Vai à Burra,
Xarém com Leite, Cagão,
Rei dos Chinos, Mijaneira,
Mãe Quer Galo, Batateira,
Sopa Gorda, Espadagão.


Laborda, Manco, Tágafo,
Bocage, Cabouco, Milho,
Sete Narizes, Chópinha,
Charamuga e Galinha,
Arranca Pinheiros, Mamilho.


Cara Linda, Cara Feia,
Parte Certa, Gaita Preta,
Bem Feito, Bucha, Baló,
Olhinhos de fogo, Eiró,
Espada nua e Cagueta. 



No 77º aniversário do saudoso Tio Celestino, o texto que lhe levei na última visita ao hospital e que lhe arrancou risos e lágrimas.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

As Bibianas da Família


Já aqui tinha falado na herança dos nomes próprios na nossa família, todos repetidos em várias gerações por via do  Avô Xico. 
Assim, e só para citar alguns exemplos,  o nome Francisco veio do pai dele, Francisco Viegas Contreiras, e foi passado aos filhos, o Tio Xico, o Tio António (que era António Francisco), e o Primo Xiquezinho. O Tio Celestino recebeu o nome do pai da Bisa Joanna Baptista, José Celestino Barbosa. O Tio João (que era João José) herdou o nome do irmão mais velho da Bisa, João José Barbosa.

Tendo sido adotada, nada se sabe sobre qualquer membro da ascendência sanguínea da Avô Cebola. Como era hábito nessa época, as crianças da Roda (dos adotados) recebiam nomes bastante criativos para a altura, geralmente relacionados com o nome do Santo Católico do dia do registo. Assim a Avô Cebola, por ter sido batizada no dia 2 de dezembro, recebeu o nome de Bibiana da Conceição. 
E aqui começou a "dinastia das Bibianas" da família.


Bibiana da Conceição Viegas

 A Prima Bibiana nasceu em Olhão, a 4 de abril de 1957, e era filha da Tia Maria Lucinda.
Foi criada com a mãe e com a Avó Cebola. Nunca desenvolveu de forma correta as suas capacidades cognitivas e na transição para a adolescência o seu estado psíquico e físico foi-se agravando de forma irreversível. Faleceu com 19 anos, no dia 28 de outubro de 1975.





Neste pequeno filme, a Prima Bibiana pouco tempo antes da sua morte:(com som)








Esperança Bebiana da Silva André Afonso


 Filha do Tio João e da Tia Lucília, a Prima Esperancinha nasceu a 21 de novembro de 1956, em Olhão. . Aos dois anos foi viver para Matosinhos, onde o Tio João trabalhava na atividade piscatória.
Nessa cidade nortenha passou a infância e a adolescência. Em meados dos anos 70 regressou a Olhão.
Casou em 1979 com Mário Eusébio Afonso. Desse casamento nasceu a Prima Telma.
No início dos anos 90 concluiu a sua licenciatura e desde essa altura é professora do 2º ciclo. 


Bebiana da Conceição Seco Viegas


Filha do Tio António e da Tia Otília, a Prima Bebiana nasceu a 17 de dezembro de 1963, na freguesia de São Julião da Figueira da Foz.
Viveu com a família em Matosinhos e em Angola. 


Em Matosinhos, com a Prima Esperancinha e com a irmã Anabela

   
Em Angola, com os Pais e irmãs
    
Aos 19 anos, logo após terminar o 12º ano, foi para Londres trabalhar como nany para uma família britânica e aí ficou durante 8 anos.
Regressada a Olhão, empregou-se como técnica veterinária, atividade que ainda mantém.
De atitude tranquila mas de espírito irrequieto, a Prima Bebiana tem duas paixões: as viagens e o ciclismo de lazer.

Com a sua primeira bicicleta

Num passeio ciclista

A Prima Bebiana é membro dos "Leões de Olhão" (Ciclismo de Lazer)


Na Ásia e na Suiça


Com as irmãs: Anabela, Helga e Palmira


Victória Bibiana Afonso Mendonça




A Victória nasceu a 21 de novembro de 2012. É filha da Prima Telma e do Primo Tiago, e neta da Prima Esperancinha.
Tem agora 6 anos e vai entrar este ano para o 1º ano. 
Trouxe muitas características da nossa família. É uma criança alegre, curiosa e de espírito prático. Gosta de cantar e de dançar. 

A Victória é o último elemento desta dinastia das Bibianas da Família.