CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO TIO JOÃO BÚZIO

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Outros Natais

Para mim, o natal teve sempre um significado muito grande, muito por “culpa” do meu pai, que era um grande entusiasta da festa da família. Era ele que alegrava as Ceias com os cânticos ao Menino, tão tradicionais da nossa terra.

Já nasceu, já nasceu o Deus Menino,
com prazer e alegria
Já nasceu, já nasceu o Deus Menino,
Filho da Virgem Maria
A Nossa Senhora tem,
tem uma rosa no punho
Que lhe puseram os anjos,
a vinte e quatro de junho
Já nasceu, já nasceu o Deus Menino,
com prazer e alegria
Já nasceu, já nasceu o Deus Menino,
Filho da Virgem Maria
  
Além do mais, era a época em que avô Cebola mandava os cestos com as iguarias que no Norte não havia: figos acalcados e figos cheios, batata doce para as trutas, bolotas, amêndoas côcas e laranjas algarvias, grandes, de umbigo aberto. Abrir o cesto da Avô era um ritual que me ligava à cultura de origem.
O primeiro natal de que me lembro com nitidez foi um no início dos anos 60 (62 ou 63). Aí já  morávamos sozinhos, numa casa pequenina, a que ternamente chamávamos “caseta”. Lembro-me da minha mãe a preparar o jantar e de eu ter posto, bem cedo, na chaminé, a minha bota.  O tio Márim, perito em brincadeiras e partidas, começou a chamar por mim – Esperancinha, vem cá, o Menino Jesus  já passou! E eu, rebentando de felicidade, a correr para a cozinha, para ver o que o Menino me tinha deixado. Sai, então, da cozinha o Tio com a minha bota na mão, carregada de… cascas de batatas! Bom, o choro foi mais que muito. Mas, no outro dia de manhã, lá tinha os meus brinquedos.
Outro lembrado natal foi já na casa grande. Aí fazíamos sempre a Ceia no chão do quarto dos pais, por ser uma divisão muito grande, mas muito aconchegada. O meu pai gostava dos natais no chão, tal como fora habituado em casa dos avós, onde se comia e dormia numa alternância de celebração. Neste natal que recordo, tivemos a presença do Tio Tóine, da Tia Otília, das primas e da avó materna delas. A certa altura do jantar, buliçoso e divertido, o Tio começa a cantar canções que nada tinham a ver com a quadra. Uma delas era sobre peixes – o refrão era qualquer coisa como: e o maçacote também quer ser congelado, eu cá não, eu cá não… -  mas a maneira como o tio cantava levou-nos às lágrimas… de riso! Foi de rebentar!
Sem qualquer espécie de revivalismo, tenho saudades desses natais. Porque marcaram uma época em que o Natal era mesmo o aniversário do Menino Jesus e era ele que nos “oferecia” os poucos  presentes mas únicos. Porque era a quadra da família, no seu conceito mais puro, coletivo e partilhado.

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