Os Avós tiveram um único genro – o Tio Manuel Viegas – e esse facto fez dele mais um filho a juntar aos outros.
Conheci-o já assim, isto é, já bem entrado nos quarenta:
Era um homem de fala enrolada, mas culto e que falava crioulo (a língua de Cabo Verde) fluentemente. Gostava de poesia e até é capaz de haver por aí alguns dos poemas feitos por ele, em crioulo, que eu li há mais de trinta anos.
Era muito guloso, especialmente para as rabanadas do Natal. Por entretenimento, chegou a fazer algumas fainas de mar no barco do meu pai, protagonizando algumas brincadeiras e partidas que encarava sempre com boa disposição. Tinha uma particularidade única: embora o fizesse com bastante frequência, a ida ao barbeiro para cortar o cabelo era sempre um pesadelo – o barulho da tesoura nos cabelos provocava-lhe uma impressão enorme, às vezes quase doentia, que o deixava de mau humor (creio que era essa a única vez que tinha mau humor).
Nascido em 20 de junho de 1929, era um dos sete filhos (só masculinos) de José Viegas Cava e de Natividade Bonança. Cedo ficou sem os pais e por influência do meio-irmão mais velho, o Comissário Luciano Cava, entrou para a Polícia de Segurança Pública.
Casou com a Tia Necas no dia 23 de Fevereiro de 1957 e no início dos anos 60 foi para Luanda e mais tarde para Cabo Verde, onde integrou o corpo da PSP que fazia serviço no Campo do Tarrafal, na ilha de Santiago – antiga prisão política.
Aí conheceu Luandino Vieira e o respeito mútuo fez com que este grande nome das letras Angolanas lhe oferecesse o rascunho do seu primeiro livro de contos, produzido na prisão, escrito à máquina e encadernado com capas feitas das caixas de papel químico “Kores”.
Com a queda do Regime, o regresso de África foi inevitável. Foi então colocado em Lisboa, na esquadra das Mercês, no Bairro Alto, em Lisboa.
No final dos anos setenta veio para a esquadra de Olhão, como subchefe. Reformou-se nos anos oitenta. Faleceu no dia 23 de Fevereiro de 1992, aos 63 anos, no dia em que celebraria 35 anos de casado.
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