Conheci-o em 1961, quando ele foi para Matosinhos. Tinha cerca de quarenta. Baixo, entroncado, de rosto vincado e moreno, e às vezes usava chapéu, acessório ainda comum nos homens na década de sessenta. Dessa época não me lembro de muitas coisas dele, pois não tinha a ligação que tinha com os outros tios, provavelmente porque era mais velho e não tinha as brincadeiras com os miúdos que os irmãos tinham.
Lembro-me mais dos anos posteriores, quando vínhamos a Olhão passar uns dias, em Maio. Invariavelmente, quando chegávamos era a casa dele, na Almirante Reis, 117, que íamos primeiro. Curioso pensar agora, a esta distância de tempo, sobre algumas das coisas vividas em primeira mão, aqui na minha terra. Eu tinha seis anos quando os meus pais resolveram fazer a primeira visita à terra natal, depois de terem ido para Matosinhos, e, quando cá cheguei, a maneira de falar das pessoas era-me totalmente desconhecida e até mesmo incompreensível, mas ao mesmo encantadora. E uma das pessoas que eu pasmava a ouvir falar era o Primo Miguelito. Para mim era como se ele cantasse a falar. Recordo que quando voltei para casa, levei dias a imitá-lo, para grande divertimento do meu pai. Outra vivência em primeira mão com o Tio e família foi conhecer a Ilha da Armona. E por fim, aquela coisa espantosa que era comer uma carapinhada na esplanada da Gelvi, ao som da “Chiquita Banana” que brilhava num inimaginável ecrã ao ar livre! Bolas! Bons tempos! Grandes tempos!
O Tio Xico era casado com a Tia Lucinda, mulher alta e magra, cuja mãe, pequenina, tinha um sentido de humor apurado, sempre pronto para uma piada ou anedota.
No início de casados, os meus pais chegaram a partilhar uma casa com os Tios, no Beco do Nobre. Nessa altura já havia o Primo Xiquezinhe, nascido em 1944 e a Prima Esterinha, nascida em 1948. Depois, em 1954 nasceu o Primo Miguelito, e por fim em 1957, nasceu a Maria José, mas que só é conhecida por Prima Zéa.
O Primo Xiquezinhe estudou em Faro, casou com a Prima Betinha e teve três filhos: a Ana, o Paulo e o Mário.
A Prima Esterinha, uma das caras mais bonitas da família da segunda geração, casou com o Primo Zé Manel, e teve a Ana Paula e o Cláudio. Infelizmente, deixou-nos cedo de mais, em 1991.
O Primo Miguelito aprendeu a arte de trabalhar o mármore. Casou com a Prima Cidália e é pai da Prima Sandra e do Primo Miguel.
A Prima Zéa casou com o Primo Ilidinho e teve o Primo Ilídio e o Primo Nuno. Acrescento aqui que a Prima Zéa era a minha companheira de andanças quando cá vinha em férias, e depois mais tarde, quando morei em casa do Tio Márim. Éramos quase da mesma idade (tenho mais um ano que ela) e as amigas dela passaram a ser minhas também, nessa altura. Agradava-me esta prima pelo sentido de humor e desembaraço parecidos com o meu. Aliás o sentido de humor foi sempre o apanágio desta grande família dos Avós.
Quando regressei de vez a Olhão, lidei mais de perto com o Tio Xico e Tia Lucinda e confirmei a boa impressão que sempre tive deles.
O Tio Xico deixou este mundo em Março de 2000 e a Tia Lucinda juntou-se-lhe em 2007.