Chegou agora a vez de dar a conhecer aos mais novos a primeira geração de primos.
Primeiro filho do Tio Xico e da Tia Lucinda, Francisco António Viegas nasceu numa quinta-feira, a 2 de maio de 1946. Nesse mesmo ano foi batizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, tendo sido seu padrinho João Domingos, empresário de Santa Luzia e dono do barco que o Tio Xico andava "à forra" (forma de se comprar um bem a prestações).
Primo Xico com os pais |
Aos 6 anos foi para a escola do Largo da Feira e aí completou a 4ª classe como aluno do professor Marques.
Escolas do Largo da Feira |
De espírito irrequieto e aventureiro, acompanhava , por volta dos 10 anos, com o Tio Celestino e Tio Russo na apanha do marisco e moluscos na Ria Formosa, e em simultâneo fazia uns biscates para o Sr. Gervásio, com mercearia na Rua Almirante Reis, onde o maior pagamento era andar na bicicleta das entregas ao domicílio.
Antes de fazer 12 anos, aceitou com agrado o convite do Tio Eugénio, cunhado da Tia Lucinda, para ir trabalhar no casino de Armação de Pêra, propriedade do pai daquele. A sua principal função era colocar música ambiente, ao som da qual os turistas jantavam. Mas o facto de ter de residir longe dos pais, fez com que procurasse outra coisa mais perto. Então, o Tio Celestino e o Tio Russo, que trabalhavam lá, arranjaram-lhe lugar na Companhia Portuguesa de Congelação, em Olhão, onde ganhava cerca de 2,5 escudos à hora (cerca de 1 €).
Companhia Portuguesa de Congelação (já extinta) |
Em 1960, e em resultado de um conhecimento antigo com um vendedor da marca "Vaqueiro", Orlando Siderac Reis Silva (cuja família era dona de uma fábrica de conservas em Olhão), Xico vai para Faro trabalhar para a empresa Unilever Portuguesa. Empregado no armazém, tanto desempenhava funções administrativas como ia, de bicicleta, falar diretamente com os clientes e trazer encomendas que passava ao vendedor.
Anúncio da margarina Vaqueiro, anos 50 |
Num dia de trabalho de 1964, o vendedor Mário Coelho (que seria anos mais tarde padrinho da filha Ana) pede-lhe para o acompanhar numa visita comercial a um cliente. Aí, enquanto o colega conversava com um desconhecido, Xico despachou o serviço de entrega de mercadoria, removeu e substituiu os anúncios e preparou os pacotes de devolução. O desconhecido apercebeu-se da vivacidade e empenho do ajudante e chamou-o. Desta maneira, travou conhecimento com o Engenheiro Soares dos Santos, que nessa altura comandava os destinos da Unilever Portuguesa e que no presente foi presidente do Conselho de Administração do grupo Jerónimo Martins, dono do Pingo Doce Supermercados.
Tal encontro garantiu-lhe a função de vendedor de pleno direito e a promessa de mais altos voos, se as habilitações académicas o permitissem.
Ciente de um novo rumo que a sua vida poderia tomar, Xico decidiu candidatar-se aos exames externos do 1º ciclo no Liceu João de Deus, em Faro. Para se preparar convenientemente, recorreu às explicações particulares da professora Josefina Strazzera, cujos 300 escudos de ónus eram pagos de maneira bastante criativa: juntava caixas de cartão dos detergentes e grades de plástico e ia vender à Fábrica de Plásticos do Bom João, em Faro. Em 1965, completou com êxito todos os exames e obteve o diploma dos 1º e 2º anos dos Curso Geral dos Liceus.
No final do mesmo ano, a Unilever fechou os armazéns em Faro e ele mudou-se para a empresa SPAR.
Em 1966 foi à inspeção militar. Fez os psicotécnicos em Elvas e durante o ano de 1967 passou pelo CICA2 e RAP da Figueira da Foz, RIF4 de Faro (onde tinha o número 70544/67) e RI16 de Évora.
A 1 de dezembro de 1967 partiu no navio Vera Cruz para Angola, onde chegou a 11 do mesmo mês. Destacado para Santa Cruz, a norte de Sanza Pombo, aí irá ficar nos 25 meses seguintes.
Os longos meses da guerra são suportados pelas saudades e memórias emocionadas da esposa que deixara para trás e com quem se tinha casado no dia 31 de outubro de 1965: Elizabete da Palma Dias Viegas.
Navio Vera Cruz transportando um contingente de tropas para África |
Edifício militar em Sanza Pombo, 1969 |
Junto ao memorial dos soldados mortos do Batalhão de Caçadores |
No quartel, em Angola |
Os longos meses da guerra são suportados pelas saudades e memórias emocionadas da esposa que deixara para trás e com quem se tinha casado no dia 31 de outubro de 1965: Elizabete da Palma Dias Viegas.
A prima Bétinha |
No dia do casamento. À direita, a Tia Ermelinda, o Tio Manel e a prima Lina |
Bétinha, como sempre foi chamada, era filha de Maria do Rosário, natural da Fuzeta, e de Firmino da Palma, natural de Pechão. Tinha dois irmãos, Dionísio da Palma e Bartolomeu Dias. Era operária conserveira, com aprendizagem na Fábrica do Americano, e continuidade na Fábrica do Pacheco.
Maria do Rosário e Firmino da Palma, pais de Bétinha |
Alegre e de longos e fartos cabelos, Bétinha foi a escolha definitiva numa proximidade que vinha desde a adolescência.
Bétinha escrevendo ao marido |
Fotografia para enviar ao papá. Ana ao colo da mãe |
A primeira filha do casal, Ana Cristina da Palma Viegas (Sérvulo, de casada), nasceu a 3 de março de 1967. É casada com José Neves Sérvulo e mãe de Fábio Viegas Neves, nascido a 22 de agosto de 1989.
O segundo filho, Paulo Alexandre da Palma Viegas, nasceu a 7 de janeiro de 1971. É casado com Goretti Viegas, da ilha do Pico, Açores, e pai da Mariana Viegas.
Mário da Palma Viegas é o terceiro filho e nasceu a 21 de novembro de 1973. É casado com Marisa VIegas e pai do Márcio Viegas e da Margarida Viegas.
Em 1979, o primo Xico e a prima Bétinha adotaram o Carlinhos, de seu nome completo Carlos Pereira dos Santos.
Os filhos do Primo Xico: em cima - Ana e Paulo; em baixo - Mário e Carlos |
Acabado o serviço militar, o primo Xico procurou, então, dar um rumo diferente à sua vida e em 1970 foi para a Alemanha, mais propriamente para a cidade de Glinde, onde a boa oferta laboral permitiu chamar a mulher e os dois filhos mais velhos para junto de si. O Mário já nasceu em Glinde.
Friedericipark, Glinde, Alemanha |
Começou por trabalhar no Aviário Olhanense, e quando a empresa foi vendida entrou para sócio da firma Custódio & Oliveira, Ldª, com sede na Rua Manuel Martins Garrocho. Aqui trabalhou até 1987.
Anúncio do Aviário Central Olhanense (1972) |
Anúncio da firma Custódio & Oliveira, Ldª |
Foi, então, para a empresa Geraldo Mariano Viegas, e aí permaneceu até 2004, ano em que se reformou.
Apesar de já ser septuagenário, o Primo Xico mantém o espírito irrequieto que sempre o caracterizou. É um homem de família e vive os seus dias rodeado dos filhos e netos, sempre acompanhado pela sua Bétinha, numa postura de cordialidade e simpatia para com toda a gente.
Neste pequeno filme, é apresentado o núcleo familiar do Primo Xico: